sexta-feira, 27 de junho de 2014

IMPLORANDO PELO PODER DE PODER

“...No que diz respeito à presente questão, assim que nos prescreveu que se deva fazer, ela ensina que o poder de obedecer procede da bondade de Deus, e por isso nos convida às preces, mediante as quais imploremos que nos seja dado esse poder.” (Institutas, vol. II, pág. 89)

Quer dizer, então, que ninguém é capaz de obedecer a Deus, ninguém pode cultivar a virtude da obediência, ninguém pode curvar-se à vontade de Deus, a não ser através de muitas e dedicadas orações?!

E a obediência em si mesma, ainda que anelada e buscada mediante preces e por convite de Deus, não representaria nenhuma virtude, pois que é o resultado do PODER que há necessariamente de proceder de Deus, e, portanto, não haveria virtude alguma nem na obediência nem nas preces em prol da obediência?

Mesmo Abraão, cuja trajetória de vida a Bíblia narra com expressivos encômios, como exemplo de obediência a ser seguido, homem esse que não hesitou em oferecer seu próprio e único filho, entre numerosos outros feitos de santa obediência a Deus, não o teria realizado de si mesmo, mas fora a isso empurrado ou compelido pelo Poder Predestinatório de Deus, não sem aceitar o convite de Deus para lançar-se em incontáveis preces?!
Mas (pior ainda) se, em estrita coerência com a doutrinação calvinista, fatalista e dualista, expressa nesse mesmo livro, orações não alteram o curso da vida, não provocam reações nem emoções por parte de Deus como se o Criador estivesse diante de palavras surpreendentes; não matizam nem o presente nem o futuro, a menos que os Decretos Eternos de Deus fossem passíveis de alterações por meio ou por efeito ou por eficácia de petições de homens em forma de deprecações ou preces...

Como, pois, poderíamos demover Deus ou comover Deus de tal maneira que, atento a atitudes nossas, ouvidos solícitos a nossos clamores, sobrevenham alterações no contexto da preordenação divina?

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