sábado, 28 de junho de 2014

QUE ESPÉCIE DE PREDESTINAÇÃO SERIA ESSA?

“Portanto, declara ele que as virtudes têm nele recompensas, nem haverá de laborar em vão aquele que lhe tenha obedecido aos mandamentos. Proclama, por outro lado, que a injustiça não só lhe é execrável, mas ainda que não haverá de escapar impunemente, porquanto ele próprio haverá de ser o vingador de sua majestade ultrajada.” (Institutas, vol. II, pág. 131)


Mas esse discurso de Calvino fere barulhentamente de contradição toda a doutrinação-mor deste livro, que trata dos propósitos e decretos imutáveis de Deus, decorrência dos quais a uns impele para o bom e derradeiro caminho e a outros destina para a infinita perdição, independentemente de qualquer consideração de virtudes em relação àqueles graciosamente privilegiados, e sem cogitação de merecimentos ou de atos de injustiça em referência a estes últimos.

Portanto, se formos virtuosos, d’onde ou por que causa viria a recompensa da ressurreição definitiva para a vida infindável?


Por outro lado, se alheios a qualquer virtude, qual a razão da execrabilidade de nosso “molejo de viver” por cuja causa, após igualmente passando pela ressurreição, sofreremos a severa punição do Criador, que inclui morrer uma vez e perecer segunda vez?

O ALCANCE (IR)RESTRITO DA MISERICÓRDIA

Repercute o francês João Calvino (‘Institutas’, vol. II, pág. 119):

“O mesmo ensina ainda o Apóstolo, em outro lugar [Rm 11.32], que Deus a todos encerrou debaixo da incredulidade, não para que os perca, ou deixe que todos pereçam, mas para que ele tenha misericórdia de todos.”

Longe, muito longe, de dúvidas, detecta-se, aqui, uma enorme (e rotineira) contradição do escritor, consistente em que, embora citando passagem bíblica de indubitável clareza, ele se cala como se a admitir ou com o aberto propósito de admitir que

“Deus a todos encerrou debaixo da incredulidade, não para que os perca, ou deixe que todos pereçam, mas para que ele tenha misericórdia de todos” ;


quando, em verdade, sabe-se aos quatro ventos que ele mesmo (o polígrafo gaulês) diz, declara, preconiza e apregoa incansavelmente que não se pode sequer cogitar a possibilidade de “TODOS”, pois que, ao seu entender, existem aqueles (específicos e pré-marcados) que são, esses apenas, alcançados pelo Decreto Eletivo de Deus, e que Cristo não morreu por TODOS, mas somente por uns poucos, o que, entre outras variantes, significa lançar no vácuo uma das Passagens Bíblicas mais contundentes, ou mais emblematicamente contundentes, ou mais espiritualmente significativas, qual seja: João 3:16.

A GRAÇA QUE REPARA A VONTADE E A DESGRAÇA QUE A ANIQUILA


“Entrementes, não negamos ser mui verdadeiro o que Agostinho ensina: que a vontade não é destruída pela graça; ao contrário, é antes reparada, pois que ambos esses conceitos se harmonizam esplendidamente, de modo que se pode dizer que a vontade do homem é restaurada, enquanto, corrigida a viciosidade e depravação, é ela dirigida à verdadeira norma da justiça, e ao mesmo tempo se pode dizer que é criada no homem uma vontade nova, porquanto está viciada e corrompida a tal ponto que ele tem por necessário induzir-lhe no íntimo uma nova natureza.
Os testemunhos que, depois disto, daqui e dali respigam da Escritura não haverão de causar muita dificuldade até mesmo aos entendimentos menos aquinhoados, que simplesmente tenham devidamente se embebido das refutações precedentes.”
(Institutas, vol. II, pág. 100)

A aberrativa contradição é estrondosamente perceptível, quando se considera que o escritor, de caso pensado, assevera que a vontade não é destruída pela graça; ao contrário, é antes reparada”, sob o enfoque de que ele desconsidera o outro lado existencial do ser humano, isto é, aqueles cuja vontade, então, seria “destruída” pela (des)graça, ou pela rejeição decorrente dos Decretos de Deus!!!


A menos que o escritor, através de sua exegese um tanto misteriosa, justifique "aos entendimentos menos aquinhoados" que, em sentido contrário, flagrantemente contradizendo-se em relação à dupla predestinação, a “vontade”(sic) do ”perdido”(sic) teria simplesmente prevalecido em pertinência à preordenação, isto é, ele tinha em mente exatamente rejeitar a Deus e ser por Deus rejeitado, morrendo fisicamente e morrendo espiritualmente!!!

sexta-feira, 27 de junho de 2014

CALVINISMO: VONTADE HUMANA SUBJUGADA E SINÉRGICA

Com este desembaraço, fluem as palavras de João Calvino (‘Institutas’, vol. II, págs. 97, 98, 99)

“Com efeito, quando, ofendido e como que fatigado por nossa obstinação inquebrantada, isto é, removida sua Palavra, na qual costuma exibir algo de sua presença, o Senhor nos deixa por um pouco, e empreende a experiência do que tenhamos de fazer enquanto ele está ausente, daí se conclui erroneamente haver certos poderes de livre-arbítrio que Deus contempla e testa, quando não o faz para outro fim senão forçar-nos a reconhecer nossa nulidade.
Com efeito, um tanto mais forte é esta segunda objeção: que a Escritura, com freqüência, afirma que nós, de nós mesmos, adoramos a Deus, preservamos a justiça, obedecemos à lei, somos zelosos em boas obras. Uma vez que estas são funções próprias da mente e da vontade, como conviria atribuir estas coisas ao Espírito e, ao mesmo tempo, nos serem atribuídas, a não ser que houvesse certa conjunção de nosso esforço com o poder divino? Dessas futilidades nos desvencilhamos sem qualquer dificuldade, se ponderamos apropriadamente a maneira em que o Espírito do Senhor opera nos santos. É improcedente aquela comparação com que odientamente nos rotulam, pois quem carece de entendimento a tal ponto que creia que o impulso de um homem nada difere do arremesso de uma pedra? Na verdade, de nossa doutrina não se deduz nada que seja semelhante. Entre as faculdades naturais do homem nos reportamos ao aprovar, ao rejeitar; ao querer, ao não querer; ao esforçar-se por, ao resistir a; isto é, aprovar o que é fátuo, rejeitar o que é essencialmente bom; querer o mal, não querer o bem; fazer esforços em relação à iniqüidade, resistir à retidão. Que faz aqui o Senhor? Se quer utilizar-se de depravação desta natureza como instrumento de sua ira, a dirige e a dispõe como bem lhe aprouver, para que execute sua boa obra através de mão ímpia.
Portanto, o homem celerado que, enquanto diligencia por obedecer apenas à sua concupiscência, assim serve ao poder de Deus, porventura o compararemos com uma pedra que, acionada por impulso alheio, não é impelida nem por motilidade, nem por sensibilidade, nem por vontade própria? Vemos, pois, a grande diferença que existe!
Por essa razão, diz Agostinho: “Dir-me-ás: Portanto, não agimos, sofremos ação. Pelo contrário, ages e sofres ação, e então ages bem, se do bom estás a sofrer a ação. O Espírito de Deus que age sobre ti é ajudador dos que agem. O designativo ajudador prescreve que também tu ages em certa medida.” No primeiro membro dessa alternância inculca ele que a ação do homem não é suprimida pela atuação do Espírito Santo, por isso que a vontade, que é regida para que aspire ao bem, lhe é da própria natureza.”


“Ofendido”?! “Fatigado?!” Mas como poderia o homem, assumindo atitude de rebelião, isto é, não se deixando quebrantar (como se possível isso fosse, calvinisticamente falando), conduzir Deus à fadiga”, se somos todos, em todos os nosso pensamentos, ações e omissões, inarredavelmente dirigidos por Ele próprio, quer para o bem, quer para o mal? Esta, a propósito, é a centralidade da tese doutrinária do citado escritor, estampada na definição que ele mesmo alinhava como sendo predestinação:

"...Chamamos predestinação o eterno decreto de Deus pelo qual houve por bem determinar o que acerca de cada homem quis que acontecesse. Pois ele não quis criar a todos em igual condição; ao contrário, preordenou a uns a vida eterna; a outros, a condenação eterna. Portanto, como cada um foi criado para um ou outro desses dois destinos, assim dizemos que um foi predestinado ou para a vida, ou para a morte."

O homem celerado”(!?) não fora assim, exatamente assim, criado por Deus, não fora assim direcionado por Deus? Essa sua maneira ímpia ou celerada de ser certamente NÃO derivou de sua livre escolha ou de seu arbítrio!!

E que diferença faz se o chamarmos de ou se o compararmos a “PEDRA DE ARREMESSO” ou “MADEIRA SUSCEPTÍVEL”, se o que ele se propõe a fazer no curso de sua vida não procede de seu próprio umbigo ou de seu restrito e finito cérebro?!

O francês Calvino demonstra o propósito de transmitir ou de “explicar”(sic) que, mesmo sendo, por Decreto de Deus, eternamente ímpio, o que de impiedade o homem pratica não o torna semelhante a uma PEDRA ARREMESSADA, pois que fá-lo com “sensibilidade e vontade” próprias?!

“...Pelo contrário, ages e sofres ação, e então ages bem, se do bom estás a sofrer a ação.”

Incrível e inadjetivável essa incursão de Calvino!! Intentar explicar o inexplicável, intentar reduzir a  “compêndio” ou a “tratado” a imensurável grandeza de Deus, intentar fracionar ao microscópio do intelecto de meros homens a insondabilidade daquilo que de Deus não nos é revelado, constitui ou representa algo como uma invectiva aos cristãos, e uma afronta a Deus.

Tais coisas são altíssimas e, obviamente, não estão ao alcance de nenhuma inteligência ou, mais exatamente, de nenhuma “inteligência” humana. A própria Bíblia o diz de várias maneiras, e esta é uma delas: Deus é mui grande e nós não o podemos compreender”.

Entre outras variantes, percebo neste livro chamado “Institutas da Religião Cristã”, que o autor francês Jean Cauvin parece ter uma espécie de fixação pelo inexplicável, pelo insondável. Parece ter predileção por “altos raciocínios”, por demonstrar o que provavelmente entende como erudição (como se de erudição a espiritualidade estivesse a depender), na medida simples em que não fala, não se detém nas coisas INCONTÁVEIS que na Bíblia estão contidas, ditas por Deus, ditas pelos Profetas, ditas pelo Senhor Jesus, ditas pelos Apóstolos, num diálogo pleno de amor, de chamamento, de convite, de comiseração em relação ao homem pecador, de lamentos em relação à morte ou aos desvarios do homem; do cotidiano simples de pessoas simples, porque simples somos todos em nosso cotidiano, desde Adão, desde Noé, desde Abraão, desde todos os homens que por Deus criados à sua imagem e semelhança, feitos pouco menores do que os anjos e coroados de glória e de honra.


IMPOSSÍVEL DISTINÇÃO ENTRE ELEITOS E RÉPROBOS

“No que respeita a esta consideração, nego que Deus nos engane de forma desumana, quando a nós, que sabe sermos de todo desprovidos de capacidade para fazê-lo, nos convida a merecer suas bênçãos. Mas uma vez que as promessas são oferecidas igualmente a fiéis e a ímpios, sua aplicação se refere a ambos. Da mesma forma que, mediante os preceitos, Deus punge a consciência dos ímpios, para que não se deliciem nos pecados de forma tão deliciosa, sem nenhuma lembrança de seus juízos, assim nas promessas lhes faz de certo modo testificar quão indignos são de sua benignidade. Pois, quem haja de negar que é mui justo e próprio que o Senhor cumule de bênçãos aqueles de quem é honrado,  mas, na medida de sua severidade, castigue aos que desprezam sua majestade?” (Institutas, vol. II, pág. 93)


Tal construção de palavras, derivadas de apontamentos do segmento religioso calvinista, não revela qualquer sentido BÍBLICO, eis que se Deus sabe sermos de todo desprovidos de capacidade para fazê-lo’, por que, então, somos reputados como ímpios e, assim, ‘indignos de sua benignidade’, e, ainda por cima, recebermos o ‘castigo’ em razão de supostamente deliberado desprezo da majestade de Deus, enquanto aquel’outros, igualmente, tanto quanto nós, em sentido oposto, incapazes de deliberadamente honrar a Deus, são ‘cumulados de bênçãos’?

IMPLORANDO PELO PODER DE PODER

“...No que diz respeito à presente questão, assim que nos prescreveu que se deva fazer, ela ensina que o poder de obedecer procede da bondade de Deus, e por isso nos convida às preces, mediante as quais imploremos que nos seja dado esse poder.” (Institutas, vol. II, pág. 89)

Quer dizer, então, que ninguém é capaz de obedecer a Deus, ninguém pode cultivar a virtude da obediência, ninguém pode curvar-se à vontade de Deus, a não ser através de muitas e dedicadas orações?!

E a obediência em si mesma, ainda que anelada e buscada mediante preces e por convite de Deus, não representaria nenhuma virtude, pois que é o resultado do PODER que há necessariamente de proceder de Deus, e, portanto, não haveria virtude alguma nem na obediência nem nas preces em prol da obediência?

Mesmo Abraão, cuja trajetória de vida a Bíblia narra com expressivos encômios, como exemplo de obediência a ser seguido, homem esse que não hesitou em oferecer seu próprio e único filho, entre numerosos outros feitos de santa obediência a Deus, não o teria realizado de si mesmo, mas fora a isso empurrado ou compelido pelo Poder Predestinatório de Deus, não sem aceitar o convite de Deus para lançar-se em incontáveis preces?!
Mas (pior ainda) se, em estrita coerência com a doutrinação calvinista, fatalista e dualista, expressa nesse mesmo livro, orações não alteram o curso da vida, não provocam reações nem emoções por parte de Deus como se o Criador estivesse diante de palavras surpreendentes; não matizam nem o presente nem o futuro, a menos que os Decretos Eternos de Deus fossem passíveis de alterações por meio ou por efeito ou por eficácia de petições de homens em forma de deprecações ou preces...

Como, pois, poderíamos demover Deus ou comover Deus de tal maneira que, atento a atitudes nossas, ouvidos solícitos a nossos clamores, sobrevenham alterações no contexto da preordenação divina?

terça-feira, 24 de junho de 2014

REGÊNCIA DA IMPIEDADE NO ENFOQUE CALVINISTA

“Assim, onde Moisés registra [Dt 2.30] que o rei Seom não concedera passagem ao povo porque Deus lhe havia endurecido o espírito e lhe fizera obstinado o coração, de imediato acrescenta o propósito de seu plano: “Para que o entregasse em nossas mãos”, diz ele. Portanto, visto que Deus queria que ele se perdesse, a obstinação do coração era a preparação divina para a ruína.
Atiladamente, assim define Agostinho a matéria em certo lugar: “Que os maus pequem, isso eles fazem por natureza; porém que ao pecarem, ou façam isto ou aquilo, isso provém do poder de Deus, que divide as trevas conforme lhe apraz.” (Institutas, vol. II, págs. 78 e 79)


Diante de tais afirmações, não há escape à conclusão de que, em imensurável distância de dúvidas, não existiriam homens bons nem homens maus, mas tão-somente aqueles por Deus imutavelmente orientados à maldade e aquel’outros por Deus inarredavelmente orientados à bondade?


O calvinismo, portanto, defende a tese de que Deus seria o criador, direcionador, instigador e consumador da maldade que assola o mundo...e de raríssimas bondades que poucas vezes se veem.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

O LIVRE-ARBÍTRIO ADMITIDO PELOS PREDESTINACIONISTAS

“Portanto não há por que nos queixarmos, a não ser de nós mesmos, o que a Escritura diligentemente tem assinalado, pois diz o Eclesiastes: “Isto sei, que Deus fez o homem reto, mas eles próprios buscaram para si muitas invenções” [Ec 7.29]. É óbvio que somente ao homem se deve imputar a própria ruína, uma vez que, pela benignidade de Deus, havendo obtido a retidão, por seu desvario ele caiu na fatuidade.” (Institutas, vol. II, págs. 25 e 26)


Ao que tudo indica, João Calvino discorre a Passagem Bíblica de Eclesiastes 7:29 como se nela se pudesse detectar inteira e absoluta compatibilidade com a sua tão apregoada tese fatalista!!

Porém, indaga-se: se o homem, havendo sido criado em plena retidão, “buscou muitas invenções”, significa que Ele desviou-se dos Decretos de Deus e foi capaz de “derrogá-los”?!

Se, como afirma o escritor gaulês, o homem caiu na fatuidade “por seu desvario”, fica patente, fica óbvio, que teria havido por parte do homem resistência aos decretos divinos, em típica autonomia de vontade!!


Se o tal desvario do homem somente pode e é imputado ao próprio homem, significa que Calvino tropeça desajeitadamente em sua tese, abrindo ensejo, portanto, à manifestação volitiva a que normalmente se dá o nome de arbítrio, ou, mais exatamente, livre-arbítrio.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

CRIANÇAS ABOMINÁVEIS

E prossegue João Calvino no delineamento de seu Manual da Religião Cristã:

“E por isso também as próprias crianças, enquanto trazem consigo sua condenação  desde o ventre materno, são tidas como culposas não por falta alheia, mas pela falta de si próprias. Ora, embora ainda não tenham trazido à tona os frutos de sua iniqüidade, no entanto têm encerrada dentro de si a semente. Com efeito, sua natureza toda é uma como que sementeira de pecado. Por isso, não pode ela deixar de ser odiosa e abominável a Deus. Do quê se segue que, com propriedade, esse estado é considerado como pecado diante de Deus, pois não haveria incriminação sem a culpabilidade.” (‘Institutas’, vol. II, formato pdf, pág. 24, tradução de Waldyr Carvalho Luz)

Então, quando uma criança morre no útero materno, ou ainda em tenra idade, e, portanto, sem nada ter praticado, sem balbuciar palavra, ainda assim é (ou poderá ser, dependendo se abrangida pelo decreto predestinatório da condenação antecedente à fundação do mundo) desprezível, amaldiçoada, execrada e condenada ao inferno?

E isso, torne-se a salientar, ‘inda que por efeito e em decorrência da preordenação divina, de forma alguma poderia mitigar, inibir ou eliminar a culpa, ou a responsabilidade, ou o pecado, ou a mácula indelével que jazeria incrustada nela própria?


Com outras palavras, antes mesmo que nascesse, ou ainda no ventre da mãe, a criança agravou a Deus, ofendeu-O, blasfemou, fez-se indigna, EM TUDO SEMELHANTE, tanto quanto qualquer homicida, tanto quanto qualquer adorador do diabo, tanto quanto qualquer pessoa cuja vida terrena fora na inteireza dedicada à prática e ao cultivo da iniqüidade em todas as suas variantes?

CALVINISMO: O ARBÍTRIO ‘QUASE-LIVRE’ DO DIABO

Da pena de João Calvino, colhem-se os seguintes dizeres:


“Como, porém, o Diabo foi criado por Deus, lembremo-nos de que esta malignificência que atribuímos à sua natureza não procede da criação, mas da depravação. Tudo quanto, pois, tem ele de condenável, sobre si evocou por sua defecção e queda. Pois visto que a Escritura nos adverte, para que não venhamos, crendo que ele recebeu de Deus exatamente o que é agora, a atribuir ao próprio Deus o que lhe é absolutamente estranho. Portanto, para que nós próprios não nos detenhamos em demasia em coisas supérfluas, no que se refere à natureza dos seres diabólicos estejamos contentes com resumirmos a matéria assim: na criação original foram anjos de Deus; mas, em degenerando, perderam-se e se fizeram instrumentos de perdição a outros.”
“...Portanto, isto tem Satanás por si mesmo e por sua própria malignidade: ele se opõe a Deus com vil paixão e deliberado intento. Em virtude dessa depravação, é ele incitado à tentativa dessas coisas que julga serem especialmente contrárias a Deus. Como, porém, este o mantém amarrado e tolhido pelo freio de seu poder, ele leva a bom termo apenas aquelas coisas que lhe foram divinamente concedidas, e assim, queira ou não, obedece a seu Criador, porquanto é compelido a prestar-lhe serviço aonde quer que o mesmo o impelir.” (‘Institutas’, vol. I, págs. 177 e 178, formato pdf, tradução de Waldyr Carvalho Luz)


Significa, então, que embora originariamente criado para o bem, para bons propósitos, o Diabo “desviou-se” dos Decretos da criação, evadindo-se à vontade de Deus?

E o que dizer, então, daquela Passagem Bíblica (Eclesiastes 7:29) que, referindo-se a nós próprios, declara exatamente o mesmo, ou seja, que ‘Deus criou o homem reto, mas ele buscou muitas invenções’?

Ou o desvirtuamento por “autodeliberação” somente se aplica aos anjos que, eles sim e somente eles, exercitando livre-arbítrio, degeneraram-se?
Ou, por outra, que se poderia inferir da passagem bíblica, segundo a qual o homem, o próprio homem, criado por Deus à Sua imagem e semelhança, enveredara-se por caminhos opostos àquele que, originariamente, Deus lhe mostrara, lhe indicara e lhe assinalara? Eis o que diz a Palavra de Deus em Jeremias 2:21:


“Eu mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel; como, pois, te tornaste para mim uma planta degenerada como vide estranha?”

Por conseguinte, tanto determinados anjos, quanto o homem, degeneraram-se, pois que este vocábulo ou este verbo (degenerar) foi utilizado por Calvino e igualmente encontra-se na Bíblia (Jr 2:21)?

Ou a degeneração angelical ganha sentido diferente da degeneração humana?

E o Diabo, nessa sua aparentemente livre ou quase-livre degeneração, ganhou a condição de "funcionário" de Deus?!


Afinal, o que se passou no céu e o que se passou na terra, em termos degenerativos?

quarta-feira, 18 de junho de 2014

AUTOPROCLAMAÇÃO CALVINÍSTICA

Seria de hígido tom, ou ético, ou elegante, ou de bom testemunho, que alguém se proponha a escrever um livro de conteúdo cristão, no intuito declarado de discorrer acerca da Palavra de Deus, emitindo, com ares impositivos e catedráticos, opiniões doutrinárias pretensamente insusceptíveis de discordância ou mesmo de debate, e, nessa estranha trilha, lançar repetidas ofensas verbais e abertos xingamentos relativamente a outras pessoas que eventualmente detenham pensamento doutrinário apontando para outra rota?

Lamentavelmente, é o que protagonizou João Calvino no texto e no contexto do livro que contém seu nome como Autor, chamado "Institutas’, salpicado de incríveis invectivas e referências tristemente pejorativas e chulas.

E, curiosamente, apenas um homem, entre inúmeros no mundo, fora não apenas poupado por Calvino, mas abertamente por ele aplaudido e reverenciado como “santo homem”, e esse era, num indizível paradoxo, ninguém mais, ninguém menos que o padre conhecido pelo nome de Agostinho de Hipona, clérigo do catolicismo romano, organização essa reputada veementemente pelo mesmo João Calvino como ‘ASQUEROSA MERETRIZ’.

Bem a propósito, acerca da organização ou da estrutura eclesiástica romanista Calvino de modo iracundo assim verbera (vol. IV, págs. 101 e 102):

“E se alguém olha e examina devidamente toda esta estrutura de governo eclesiástico que existe hoje sob o papismo, verá que não há no mundo bandidos mais desavergonhados. Tudo é tão contrário à instituição de Cristo, e tão oposto a ela, tão diferente do costume antigo e tão contra a natureza e a razão, que não se poderia fazer maior injúria a Cristo do que servir-se de seu nome para dourar um regime tão confuso e desordenado”. E mais adiante, o francês expõe contundentemente: “Nenhuma classe de homens hoje é de pior reputação no luxo, na efeminação, nos prazeres, por fim em todo gênero de dissoluções. De nenhuma classe de mestres há mais refinados ou mais hábeis de toda impostura, fraude, traição, perfídia; em parte alguma há tanto de solércia ou de ousadia para fazer o mal. Deixo de mencionar a arrogância, a soberba, a rapacidade, a crueldade; deixo de lado a dissoluta licenciosidade em todos os aspectos da vida; o mundo está cansado de suportar coisas do gênero, o que não há como eu exagerar em demasia”.

Especificamente quanto aos ataques de Calvino a todos quantos d’algum modo dissonantes de sua doutrina, eis alguns exemplos de seu livro colhidos:

Neguem esses cães que o Espírito Santo haja descido sobre os apóstolos ou, quando menos, anulem a credibilidade da história.” (vol. I, pág. 97)

“Elas vêm muito a propósito para que os inimigos da pura e sã doutrina sejam desbaratados, mormente em que, com seu serpear sinuoso e insinuante, estas serpentes escorregadias se escapolem, a menos que sejam acossadas com vigor e, apanhadas, sejam esmagadas.” (vol. I, pág. 130)


“O mesmo entende Oséias que, após recontar a luta que Jacó sustentou com o anjo, diz: “O Senhor é o Deus dos Exércitos; o Senhor, seu nome é um memorial perpétuo [Os 12.5]. Serveto rosna novamente, dizendo que Deus havia tomado a pessoa de um anjo.” (vol. I, pág. 138)


“Deste charco saiu outro monstro não diferente. Pois certos biltres, para evadir-se à odiosidade e ignomínia da impiedade de Serveto, confessaram que, na realidade, há três pessoas, desde que se faça, porém, a restrição de que o Pai, que é o único verdadeiro e propriamente Deus, ao formar o Filho e o Espírito, neles comunicou sua deidade.” (vol. I, pág. 152)


“Quão cuidadosamente esquadrinhou Agostinho os escritos de todos estes, em relação aos quais estes biltres são extremamente contrários, e quão reverentemente aquele os abraçou, não há necessidade de dizer absolutamente nada.” (vol. I, pág. 161)


Daqui procede que, com suas virulentas mordidas, ou, pelo menos, com seu ladrido, tão numerosa matilha de cães hoje invista contra esta doutrina, já que não querem que se faculte a Deus mais do que lhes faculta a própria razão a eles próprios. (vol. I, págs. 212 e 213)

Portanto, fora com essa petulância canina, a qual na realidade pode ladrar, à distância, contra a justiça de Deus, não, porém, tocá-la! (vol. I, pág. 217)


Os testemunhos que, depois disto, daqui e dali respigam da Escritura não haverão de causar muita dificuldade até mesmo aos entendimentos menos aquinhoados, que simplesmente tenham devidamente se embebido das refutações precedentes. (vol. II, pág. 100)

Impõe-se-nos, entretanto, precaver-nos da diabólica imaginação de Serveto, que, enquanto pretende exaltar a grandeza da graça de Cristo, ou, pelo menos, finge querer, abole totalmente as promessas, como se chegassem ao fim juntamente com a lei. Enquanto isso, nos ordena o Espírito Santo a reclinarmos sobre as promessas, a cuja autoridade entre nós deve conter todos os ladridos desse cão imundo. (vol. II, pág. 183)


E, além do mais, o que já por si só era mui útil se converte numa necessidade pela importunação desse monstro chamado Serveto, e de alguns anabatistas exaltados, que não fazem caso algum do povo de Israel, não mais que se dá a uma vara de porcos, e pensam que nosso Senhor outra coisa não quis senão cevá-los na terra sem esperança alguma da imortalidade. (vol. II, pág. 186)


Mas, na verdade, demasiado prolixo seria referir quão vergonhosamente o próprio Serveto reflete consigo, a cada passo. Deste sumário, concluirão os leitores assisados que, com os engenhosos rodeios de um cão impuro, foi de todo extinguida a esperança de salvação. (vol. II, pág. 247)


Na verdade, nem mesmo dou atenção aos ladridos de Pighi, nem de cães da mesma laia, quando investem contra esta restrição da fé à promessa da graça, como se, fragmentando a fé, apanhe só uma porção dela. (vol. III, pág. 54)


É uma impiedade intolerável querer destruir a confiança de nossa salvação sob o pretexto da dupla justiça, a qual esse demente quis forjar e querer-nos fazer caminhar pelas nuvens para separar-nos da tranqüilidade de nossa consciência, que se apoia na morte de Jesus Cristo, impedindo-nos de invocar a Deus com ânimo tranqüilo e confiante. (vol. III, pág. 207)


Aqui, que esses asnos ergam as orelhas. Se a confissão auricular era uma lei de Deus, como teria Nectário ousado suprimi-la e desarraigá-la? Acusarão a Nectário de heresia e de cisma, santo homem de Deus, aprovado por todos os sufrágios dos antigos? (vol. III, pág. 105)


Pelo mesmo procedimento, esses malditos embusteiros dividem em duas partes o pacto divino, no qual se contém nossa salvação; (vol. III, pág. 374)


No entanto, uma vez que estes cães virulentos não vomitam contra Deus uma única espécie de blasfêmia, as responderemos uma a uma, conforme a matéria o requeira. (vol. III, pág. 411)


Aliás, tampouco nos envergonhemos, a exemplo de Paulo, de assim fechar a boca dos ímprobos; e sempre que ousarem ladrar, que se repita: “Ora, quem sois vós, míseros homens, que formulais acusação contra Deus (vol. III, pág. 414)


E obviamente não estão mentindo totalmente, pois que há muitos suínos que conspurcam a doutrina da predestinação com essas impuras blasfêmias, e, até com este pretexto, evadem a todas e quaisquer advertências e censuras... (vol. III, pág. 420)



Mas esse repelente grunhido de suínos é por Paulo corretamente contido. Dizem prosseguir seguros em seus desregramentos porque, se forem do número dos eleitos, os desregramentos nada haveriam de impedir a que, finalmente, sejam conduzidos à vida. (vol. III, pág. 421)
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