sexta-feira, 11 de março de 2016

O PAPADO COLETIVO DE JOÃO CALVINO

Eis uma nuança do segmento religioso calvinista que, muito provavelmente, dará causa a manifestações de surpresa e perplexidade, considerando que pessoas no Brasil sabidamente não são cultivadoras do hábito da leitura de livros, muito menos de literatura extensa e difícil como os escritos produzidos pelo francês João Calvino.

Desde muitíssimos e empoeirados séculos pretéritos, os Católicos Romanos adotaram oficialmente e pomposamente o Papado ou Pontificado Unipessoal, instalado ou erigido com o apanágio de Estado ou País, com divisão territorial e prerrogativas peculiares. Como razão de existir de tudo isso, exsurge a figura do Papa em si mesma, alvo de irrestrita veneração e aclamado como sendo o Sumo Pontífice detentor de Santidade e Infalibilidade.

Por sua vez, esse citado escritor gaulês de nome João Calvino sustenta exegeticamente e doutrinariamente uma espécie de Papado ou Pontificado em moldes coletivos e que, conforme por ele exposto em minúcias no Livro dos Calvinistas (Institutas da Religião Cristã, vol. IV, tradução de Waldyr Carvalho Luz), não seria organizado e instalado em território delimitado, semelhantemente ao que ocorre no âmbito do Vaticano, mas tratar-se-ia de sublime e santo ofício protagonizado por Pastores, todos os quais investidos na condição ou qualidade de Embaixadores de Cristo, revestidos de Supremo Poder a cuja Majestade haverão de se submeter todos os poderes, todas as glórias e todas as sabedorias do mundo.

Ademais, nesse Pontificado Coletivo os Pastores seriam detentores do Poder das Chaves, habilitados divinamente para Ligar e Desligar, idôneos e capacitados para Perdoar os Pecados de todos quantos se lançarem a confissões auriculares, além de dotados de Divina Capacitação para Relampejar e Lançar Raios.

“...Eis o supremo poder com o qual convém que os pastores da igreja sejam investidos. Que obriguem a todo poder, glória, sabedoria, exaltação do mundo a sujeitar-se-lhe e a obedecer-lhe à majestade; sustentados em seu poder, imperem sobre todos, desde o mais alto até o mais baixo; edifiquem a mansão de Cristo, desmantelem a de satanás; apascentem as ovelhas, submetam os rebeldes e contumazes; liguem e desliguem; enfim, caso se faça necessário, relampejem e despeçam raios; tudo, porém, na Palavra de Deus.” (Institutas, vol. IV)

O escritor em referência, ressalve-se, não mencionou ou afirmou, nesse mesmo livro, que os Pastores-Papas haveriam de ser reputados como Homens Santos e Infalíveis, mas sem dúvida, e de maneira inegavelmente no mínimo surpreendente, João Calvino a eles atribuiu capacitação ou dons sobrenaturais muito superiores àqueles supostamente possuídos pelo Papa do Vaticano, a quem os Católicos Romanos outorgam a virtude da Infalibilidade.
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