quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

EMBRIAGUEZ QUE NÃO CESSA

A grande, estranha e funérea procissão da vida prossegue, deixando alardeadamente patente que o ser humano encontra-se sempre mais, e cada vez mais, embriagado pelo vazio de si mesmo...

Embriagado pela insaciável vaidade que o impele e compele aos desatinos cotidianos que marcam as páginas de sua peregrinação errante...

Embriagado pela mórbida necessidade de, por qualquer meio, a qualquer custo, estar em evidência...

Embriagado pelo doentio impulso de, incontrolavelmente e irrefreadamente, exibir-se a si mesmo, à cata de olhos preferentemente carregados de admiração ou, quando mínimo, de curiosidade e inveja...

Embriagado pelo psicótico estímulo de tudo comprar, de poder comprar, de sempre comprar, de comprar e tornar a comprar, num ritual inexauriente...

Embriagado pelo mefítico anelo de estar e permanecer inserido num grotesco rol de privilegiados ou de "notáveis" ou de "celebridades", como mola propulsora do acordar de todas as manhãs...

Embriagado pelo terrível vácuo ou apavorante deserto que carrega dentro de si embora rotineiramente chacoalhando um projetado ventre abarrotado de iguarias...

Exausto pelo niilismo de sua existência, exausto pelas nuanças inconfessáveis de seu dia-a-dia entre quatro paredes com seus familiares (se os tem), numa convivência estéril, num indescritível tédio sem fim ou que cujo fim é o fim derradeiro e inevitável...

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