terça-feira, 9 de dezembro de 2014

CALVINISMO: O REAL SIGNIFICADO

Calvinismo não apenas rima perceptivelmente com o vocábulo niilismo, mas nele tem o mais perfeito sinônimo, considerando o completo descomprometimento daqueles que, chamando-se a si cristãos, acrescentam o letreiro 'calvinistas'. E antes que críticas surjam qual avalanche em descontrole, tal assertiva mostra-se de fácil elucidação ou demonstração, na medida em que, segundo o francês autor das teses contidas em livro – ou manual, como ele próprio diz – conhecido (em realidade, pouquíssimo conhecido pela vastíssima maioria dos cristãos, que dele não vão além do próprio título) como 'Institutas da Religião Cristã', o homem é um ser projetadamente vivente e passa por este mundo não como errante e incerto peregrino, mas destinado a cruzar dias e noites como se cada dia e cada noite ou como se a cada dia e a cada noite pudesse ou lhe fosse possível dizer de si mesmo algo a Deus ou expressar-se por si próprio ao semelhante.

Assim é que:

Ser joãocalvinista não implica nenhuma preocupação em relação ao futuro, porque futuro não existe, não passando este de apenas uma espécie de expectativa meramente humana em relação a coisas fundadas e fundidas desde a eternidade;

Ser joãocalvinista não implica clamores ou invocações a Deus em altos brados; ser calvinista não implica orações em favor da 'salvação' de nenhum vivente, porque a esse respeito tudo já se encontra definitivamente organizado por Deus, e, portanto, segundo as altas e privilegiadas revelações que teriam sido outorgadas a Calvino, por exemplo, o Livro de Tiago, capítulo 5, versículos 19 e 20, encontra-se inadequadamente redigido;

Ser joãocalvinista não implica orações em favor da cura de nenhum enfermo, de vez que João Calvino encarregou-se de 'revogar' o Livro de Tiago, capítulo 5, versículos 14 a 18, ao literalmente apregoar sua inaplicabilidade aos nossos dias;

Ser joãocalvinista não implica nem mesmo a necessidade de leitura da Bíblia, já que o francês em questão é pródigo em afirmar que seu livro representa a perfeita e irretocável interpretação bíblica e por ele, apenas através dele, todo cristão seria poupado de grande enfado ao folhear debalde o cansativo Livro de Deus;

Ser joãocalvinista não implica qualquer preocupação com o próximo, com alguém, familiar ou não, que esteja mergulhado na miséria ou em criminalidades de toda estirpe, porquanto se a respeito dele estiver benevolentemente escrito no decreto eterno predestinatório de Deus, a qualquer momento ele será despertado pela Graça Irresistível, a qual não depende nem de sua vontade, muito menos da vontade do 'calvinista' despreocupado;

Ser joãocalvinista não implica preocupação com desastres ou catástrofes quaisquer, porque tudo, sem exceção, é parte integrante não apenas da presciência, mas do plano predestinatório de Deus;

Ser joãocalvinista não implica preocupação ou estarrecimento quando pessoas são espancadas, roubadas, estupradas, decapitadas, queimadas vivas (por exemplo, amarradas a estaca), pois que todos os que assim agem fazem-no estritamente como instrumentos de que Deus se utiliza para levar a termo seus propósitos infalíveis lavrados em decreto;

Ser joãocalvinista não implica preocupação com crianças ainda no ventre de mães, crianças já expelidas do ventre de mães, quer nasçam perfeitas, imperfeitas, enfermiças ou anencéfalas, eis que qualquer que delas seja a condição física, mental ou espiritual, a esse respeito tudo fora d'antemão estabelecido pela soberania predestinatória de Deus, e isso inclui a possibilidade de o próprio feto intrauterino trazer em si o inapagável estigma do demônio que o conduzirá ao inferno (por sua 'culpa' exclusiva), ou haverá de ter sido salvo em virtude de eleição eterna em decorrência de algo como graça irresistível;

Ser joãocalvinista é jazer, estar, deitar, levantar, folgar, gesticular, pentear, despentear, falar, calar, preferencialmente enriquecer, desfrutar, palestrar, gargalhar, às vezes até chorar, mas nada que possa abalar o secreto conselho de Deus, pois que tudo o que os seguidores do gaulês Calvino pensam ou venham a pensar, façam, venham a fazer, deixem de fazer, quer seja criança, adolescente, adulto ou provecto, são tão-somente fases de estrito cumprimento de um decreto que remonta a uma indizível eternidade antecedente à nossa própria existência.

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