quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A RELIGIOSIDADE ESTÉRIL DO CALVINISMO

Apegando-se unicamente naquilo que repetidamente e incansavelmente chama de Soberania de Deus, a partir da qual constrói raciocínio e conclusão plenissuficiente e de tudo excludente, o francês João Calvino, com os aplausos dos adeptos de suas teses, defende o Livre-Arbítrio como algo absolutamente inexistente, absorvido ou socorrido pela Graça Irresistível que alcança e atrai os Eleitos.

Entretanto, no que concerne aos Réprobos, de maneira reprimida ou propositadamente sem detença, isto é, sem se alongar no assunto, evitando abordar o tema, declaram os calvinianos que esses Réprobos por si mesmos se fizeram abomináveis, sob a ponderação de que o mal não poderia provir de Deus, muito menos o mal sem causa.


E, pergunta-se, qual seria a diferença marcante, perceptivelmente marcante, infalivelmente marcante, entre os eleitos pela predestinatória graça irresistível e os condenados pela predestinatória desgraça irresistível?

O que os distingue na prática, na aparência, nas atitudes, no falar, no calar-se, no agir individualmente, no agir em sociedade, no agir em família, no agir como autoridade, no agir como legislador, no agir como criatura imagem e semelhança de Deus?

Na verdade, coerentemente com os próprios pontos de vista advogados pelos calvinistas, tomando-se como parâmetro de raciocínio o predestinacionismo ao mesmo tempo eletivo e condenatório, e ao contrário do que eles apregoam, Deus não está soberanamente no controle de tudo. 

O francês João Calvino quer passar enfaticamente, não obstante contraditória e confusamente, a idéia de que a salvação é ato unilateral, irresistível e soberano de Deus, barulhando relativamente ao estado de miserabilidade espiritual do ser humano, acenando com a completa ausência de atitude, ou de iniciativa, ou de Livre-Arbítrio que possibilitasse a qualquer vivente voltar-se para Deus.

Todavia, de modo silencioso mas ensurdecedoramente contundente, os calvinianos incorrem numa brutal contradição, quando, relativamente aos não-eleitos ou predestinados para a perdição, afirmam, declaram e apregoam que tais pessoas, as quais, em conformidade com a Bíblia, são em número muito maior do que os Eleitos, foram por Deus condenadas ao Inferno em decorrência de sua exclusiva malignidade, isto é, por algo como criatividade humanamente unilateral, por voluntariedade particular ou privada, deixando patente que, ao entendimento desse movimento religioso, Livre-Arbítrio existe, sim, mas apenas para quem opta por se tornar ou escolhe ser iníquo.

Exposto de outro modo, no dizer dos calvinianos, jamais admitindo o Livre-Arbítrio dos malditos, limitando-se a vagamente declarar que eles autonomamente(?!) se fizeram culpados ou insusceptíveis de absolvição pela Graça, não obstante escudando-se generalizadamente e unicamente no que entendem ser resultado da Soberania Divina; sim, no entender desse segmento religioso, por um lado Deus predestina irresistivelmente os Escolhidos, sem que mereçam, sem que detenham autonomia de vontade; enquanto que, d’outro lado, igualmente predestinando os Réprobos, atribui a estes total liberdade de escolha, capacidade de se oporem a Deus, de resistir a Deus, de desafiar a Deus, de rejeitar a Deus, de espernear, de fazer pirraça contra Deus.

Por que, então, cargas-d’água os calvinianos insistem em dizer que Livre-Arbítrio não existe?

Em realidade, ou na prática cotidiana, os calvinianistas, diferentemente do que repetidamente discursam, aceitam, sim, a realidade do Livre-Arbítrio, ainda que sistematicamente o omitam e o encubram com artifícios retóricos.

Com outras palavras, o Eleito, de acordo com a prédica de Calvino, volta-se a enfatizar, é predestinado imerecidamente, pela Graça dita como irresistível, sem qualquer oportunidade de escolha ou de exercício de vontade; enquanto que o Réprobo ou Ímpio ou Maldito, embora predestinado para a eterna separação de Deus, ver-se-á frente a frente com tal realidade existencial por sua peculiar culpa(sic), por seu próprio esforço(sic), voltando as costas para Deus, voltando as costas para a Graça, voltando as costas para o bem, escolhendo ser mau em vez de buscar o bem, rejeitando explicitamente e indesculpavelmente a Deus.


Ou seja, na ótica do João Calvino, o Réprobo é dotado de força de vontade autoconducente, ao contrário do Eleito que nada pode fazer contra o chamado divino que o atrai de modo irrecusável.

Afinal, que  Soberania  estranhamente bifurcada, discriminadora e segregadora seria essa?

Que  Livre-Arbítrio(sic)  unilateral ou tendencioso ou milimetricamente orquestrado seria esse?

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