segunda-feira, 28 de abril de 2014

O PREDOMÍNIO INEXORÁVEL DA TRISTEZA

A vida é triste. A morte é triste. O amor é triste. A alegria é triste.

O enfado é triste. A tristeza é duplamente triste.

A intelectualidade é triste. Esquecer é triste. Ser esquecido é triste.

Ser rico é triste. Ser pobre é triste. Ter filhos é triste. Não ter filhos é triste.

A perda é triste. A indiferença é triste. A empatia é triste. A fome é triste.

A fartura é triste. A glutonaria é triste. O efêmero é triste. O ininterrupto é triste. O silêncio é triste. Gritos são tristes. 

O amanhecer é triste. O entardecer é triste. A noite é triste.

Nascer é triste. Envelhecer é triste. A doença é triste.

A veste branca do médico é triste. A música é triste. A voz é triste.

Calar é triste. A oração é triste. Desesperar é triste. Agonizar é triste.

Vigília pré-sepultamento é triste. Descer à sepultura é triste. Viver é triste.

Todas as coisas, ou nuanças, ou variantes ou mutações nesta vida são, sem exceção, peculiarmente tristes. O máximo que o trâmite ou o cortejo existencial chamado vida nos concede são apenas momentos fluidos, fugazes, durante os quais nos sentimos algo alentados e estimulados a prosseguir na frenética busca por outros brevíssimos e símiles momentos.

Nesse inevitável vaivém, de momentos em momentos, a vida consegue às vezes nos conduzir ou nos induzir a pensar que somos, ou que fomos, ou que podemos, ou que poderíamos ter sido felizes, como se delirantemente nos fosse possível tomar posse daquilo que aos quatro ventos se chama e se pranteia pelo nome de felicidade.


E, por fim, ao cabo de suspiros, precisamente como o vapor que se dissipa, tudo se deteriorou, tudo passou, tudo se esvaiu. Não há mais momentos, não há mais expectativas. Até que, rompido o véu, banidas as limitações, soa-nos aos ouvidos o chamado de Deus, abrindo-nos em definitivo novos olhos para com eles abraçarmos a eternidade.

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