sexta-feira, 23 de agosto de 2019

O INTERRUPTOR DE TODOS NÓS

O curso e contexto da existência de todos os seres humanos consiste em uma série ininterrupta de repetições de pensamentos, de palavras, de hesitações, de atos, de gestos, de alegrias, de tristezas, de desatinos, de enfermidades, de frustrações, de realizações grandes e pequenas, de nobreza, de vileza, de idas e vindas. Regressamos incessantemente às mesmas vaidades, tropeçamos nas mesmas contradições e cultivamos o antigo egoísmo

Tudo isso ao som das mesmas músicas disfarçadas por diferentes letras, demonstrando, quiçá, alguma empatia pela agonia óbvia da humanidade, ouvindo os mesmos e embotados discursos, assistindo às tragédias nossas de cada dia.

Geramos filhos e a eles nos dedicamos com esmero. Envelhecemos rapidamente, abstraídos das marcas de nossos rostos e ainda ávidos por novas repetições que nos tragam alento na já claudicante fase de vida.

Em meio a todas essas variantes que nos conduzem por largos dias e elásticas décadas, surge ao longo do caminho, sem que queiramos ou desejemos, uma espécie de interruptor ao qual se dá o nome de morte e que nos arrebata essa tão fortemente acalentada necessidade de permanecermos absorvidos em nosso cortejo de repetições cotidianas.

E, então, apenas morremos, somos transformados em cadáveres inertes, sem que o façamos, sem que o busquemos, sem que o planejemos, impedidos em definitivo de, nesta órbita existencial, repetir a vida e reprisar a morte.

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