“Se descendem das pessoas, nas quais a
desigualdade lhes parece odiosa, pelo menos deveriam tremer ante a consideração
do exemplo de Cristo, e não tão petulantemente acerca de tão profundo mistério.
Ele aqui é um homem mortal concebido da semente de Davi. De que virtudes dirão
haver ele merecido de antemão
que, no próprio ventre se fizesse o Cabeça dos anjos, o Filho Unigênito de Deus,
a imagem e glória do Pai, a luz, a justiça, a salvação do mundo? A isto
sabiamente atenta Agostinho: que no próprio Cabeça da
Igreja está o mais límpido espelho da eleição gratuita, para
que não nos espantemos quando virmos o que se opera em seus membros, nem que foi feito Filho de Deus por viver
justamente, mas, antes, foi graciosamente coroado de tão grande honra, para
que, depois, fizesse a outros participantes de suas mercês. Se aqui alguém indagar por que outros
não são o que ele é, ou por que
todos nós estamos separados dele por tão longa distância? Porque todos nós somos corruptos e ele é a própria
pureza, tal pessoa estará a manifestar, a um só tempo, não só seu erro, como
também sua impudência. Pois se persistem em querer
arrebatar de Deus o livre direito de eleger e de reprovar, então que subtraiam também,
ao mesmo tempo, o que foi dado a Cristo.” (Institutas, vol. III, pág. 395)
Calvino está aqui preconizando que Jesus
Cristo seria um típico exemplo da predestinação eletiva de Deus, que o Criador-Pai
teria concedido ao Criador-Filho a gratuita bênção da Eleição, como se o Verbo-Que-Se-Fez-Carne
houvesse recebido de Deus algo como alforria, que o Cordeiro de Deus fora salvo
por Deus por meio e por efeito da Graça Irresistível, mesmo sendo Deus na
plenitude, mesmo retendo em Si a essência do Deus Triúno, mesmo sendo Ele a
causa primária de todas as coisas, as quais foram por Ele chamadas à existência
e, portanto, sem Ele nada do que foi feito se fez.
Deus ter-se-ia elegido a si próprio predestinatoriamente?
O Espírito Santo chamou-se a si mesmo para a
Salvação?
O Filho, ao entregar-se à Graça Irresistível,
alcançou o prêmio gratuito da Eleição?
Afinal, qual seria a calvinística semelhança
soteriológica entre a Eleição Predestinatória e a Condenação Pré-decretada, relativamente
ao ser humano, e a por João Calvino apregoada Eleição de Deus pelo próprio Deus?
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