quinta-feira, 19 de junho de 2014

CRIANÇAS ABOMINÁVEIS

E prossegue João Calvino no delineamento de seu Manual da Religião Cristã:

“E por isso também as próprias crianças, enquanto trazem consigo sua condenação  desde o ventre materno, são tidas como culposas não por falta alheia, mas pela falta de si próprias. Ora, embora ainda não tenham trazido à tona os frutos de sua iniqüidade, no entanto têm encerrada dentro de si a semente. Com efeito, sua natureza toda é uma como que sementeira de pecado. Por isso, não pode ela deixar de ser odiosa e abominável a Deus. Do quê se segue que, com propriedade, esse estado é considerado como pecado diante de Deus, pois não haveria incriminação sem a culpabilidade.” (‘Institutas’, vol. II, formato pdf, pág. 24, tradução de Waldyr Carvalho Luz)

Então, quando uma criança morre no útero materno, ou ainda em tenra idade, e, portanto, sem nada ter praticado, sem balbuciar palavra, ainda assim é (ou poderá ser, dependendo se abrangida pelo decreto predestinatório da condenação antecedente à fundação do mundo) desprezível, amaldiçoada, execrada e condenada ao inferno?

E isso, torne-se a salientar, ‘inda que por efeito e em decorrência da preordenação divina, de forma alguma poderia mitigar, inibir ou eliminar a culpa, ou a responsabilidade, ou o pecado, ou a mácula indelével que jazeria incrustada nela própria?


Com outras palavras, antes mesmo que nascesse, ou ainda no ventre da mãe, a criança agravou a Deus, ofendeu-O, blasfemou, fez-se indigna, EM TUDO SEMELHANTE, tanto quanto qualquer homicida, tanto quanto qualquer adorador do diabo, tanto quanto qualquer pessoa cuja vida terrena fora na inteireza dedicada à prática e ao cultivo da iniqüidade em todas as suas variantes?

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