“...No que diz respeito à presente questão,
assim que nos prescreveu que se deva fazer, ela ensina que o poder de obedecer
procede da bondade de Deus, e por isso nos convida às preces, mediante as quais imploremos que nos seja dado esse poder.” (Institutas, vol. II, pág. 89)
Quer
dizer, então, que ninguém é capaz de obedecer a Deus, ninguém pode
cultivar a virtude da obediência, ninguém pode curvar-se à vontade de Deus, a
não ser através de muitas e dedicadas orações?!
E a obediência em si mesma, ainda que anelada e
buscada mediante preces e por convite de Deus, não representaria nenhuma
virtude,
pois que é o resultado do PODER que há necessariamente de proceder de Deus, e,
portanto, não haveria virtude alguma nem na obediência nem nas preces em prol
da obediência?
Mesmo Abraão, cuja trajetória de vida a Bíblia
narra com expressivos encômios, como exemplo de obediência a ser seguido, homem
esse que não hesitou em oferecer seu próprio e único filho, entre numerosos
outros feitos de santa obediência a Deus, não o teria realizado de si mesmo,
mas fora a isso empurrado ou compelido pelo Poder Predestinatório de Deus, não
sem aceitar o convite de Deus para lançar-se em incontáveis preces?!
Mas (pior
ainda) se, em
estrita coerência com a doutrinação calvinista, fatalista e dualista, expressa
nesse mesmo livro,
orações não alteram o curso da vida, não provocam reações nem emoções por parte
de Deus como se o Criador estivesse diante de palavras surpreendentes; não matizam
nem o presente nem o futuro, a menos que os Decretos Eternos de Deus fossem
passíveis de alterações por meio ou por efeito ou por eficácia de petições de
homens em forma de deprecações ou preces...
Como, pois,
poderíamos demover Deus ou comover Deus de tal maneira que, atento a atitudes
nossas, ouvidos solícitos a nossos clamores, sobrevenham alterações no contexto
da preordenação divina?
Nenhum comentário:
Postar um comentário