Da pena de João Calvino, colhem-se os seguintes dizeres:
“Como,
porém, o Diabo foi criado por Deus, lembremo-nos de que esta malignificência que atribuímos à sua natureza não procede
da criação, mas da depravação. Tudo quanto, pois, tem ele de condenável, sobre si evocou
por sua defecção e queda. Pois
visto que a Escritura nos adverte, para que não venhamos, crendo que ele recebeu de Deus exatamente o que é agora, a atribuir ao próprio
Deus o que lhe é absolutamente
estranho. Portanto, para que nós próprios não nos detenhamos em
demasia em coisas supérfluas,
no que se refere à natureza dos seres diabólicos estejamos contentes com
resumirmos a matéria assim: na criação
original foram anjos de Deus; mas, em
degenerando,
perderam-se e se fizeram instrumentos de perdição a outros.”
“...Portanto, isto tem Satanás por si mesmo e por sua
própria malignidade: ele se opõe a Deus com vil paixão e deliberado intento. Em virtude
dessa depravação, é ele incitado
à tentativa dessas coisas que julga serem especialmente contrárias a Deus. Como, porém, este o mantém amarrado e tolhido pelo freio de
seu poder, ele leva a bom termo
apenas aquelas coisas que lhe
foram divinamente concedidas, e assim, queira ou não, obedece a seu Criador,
porquanto é compelido a prestar-lhe serviço
aonde quer que o mesmo o impelir.” (‘Institutas’, vol. I, págs. 177 e 178,
formato pdf, tradução de Waldyr Carvalho Luz)
Significa, então,
que embora originariamente criado para o bem, para bons propósitos, o Diabo “desviou-se” dos Decretos da criação,
evadindo-se à vontade de Deus?
E o que dizer,
então, daquela Passagem Bíblica (Eclesiastes 7:29) que, referindo-se a nós próprios,
declara exatamente o mesmo, ou seja, que ‘Deus criou o homem reto, mas ele
buscou muitas invenções’?
Ou o desvirtuamento
por “autodeliberação” somente se
aplica aos anjos que, eles sim e somente eles, exercitando livre-arbítrio,
degeneraram-se?
Ou, por outra, que
se poderia inferir da passagem bíblica, segundo a qual o homem, o próprio
homem, criado por Deus à Sua imagem e semelhança, enveredara-se por caminhos
opostos àquele que, originariamente, Deus lhe mostrara, lhe indicara e lhe
assinalara? Eis o que diz a Palavra de Deus em Jeremias 2:21:
“Eu
mesmo te plantei como vide excelente, uma semente inteiramente fiel; como, pois, te tornaste para mim uma planta
degenerada como vide estranha?”
Por conseguinte, tanto
determinados anjos, quanto o homem, degeneraram-se, pois que
este vocábulo ou este verbo (degenerar) foi utilizado por Calvino e igualmente
encontra-se na Bíblia (Jr 2:21)?
Ou a degeneração angelical ganha
sentido diferente da degeneração humana?
E o Diabo, nessa sua aparentemente livre ou
quase-livre degeneração, ganhou a condição de "funcionário" de Deus?!
Afinal, o
que se passou no céu e o que se passou na terra, em termos degenerativos?
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