Para o homem que, em suas próprias palavras, desenvolveu em livro
conhecido como 'Institutas' tudo o que na Enfadonha Bíblia (palavras dele) se encontra, servindo-se dos apontamentos de um
padre de nome Agostinho e dividindo com Deus os lauréis (prefácio à edição
francesa), ninguém há no mundo passado, presente e futuro que possa se
converter para herdar a vida eterna, apregoando abertamente que pessoas
absolutamente nada fazem ou nenhuma participação têm nesse processo, porquanto
seus nomes ou estão ou não estão, antes da fundação do mundo, inscritos no
Livro da Vida por força do decreto predestinatório-eletivo eterno de Deus.
Por
conseguinte, na estranha linguagem calvinista, a Bíblia contém redação imprecisa ou
inadequada, eis que não se pode nem mesmo cogitar, por exemplo, de "QUEM
CRER, SERÁ SALVO" (Mc 16:16), considerando que, ao ritmo da tese do cidadão João Calvino (a
qual ele mesmo, sem o menor aceno de humildade, denomina de "pura e sã doutrina"),
para o Criador, "QUEM
HOUVER SIDO ELEITO INEVITAVELMENTE SE CONVERTERÁ", nem que seja de maneira
implícita, ou misteriosa, ou invisível, ainda dentro do útero da mãe...
Daí,
observa-se que a própria palavra "SALVAÇÃO" fora equivocadamente
inserida na Tediosa Bíblia (di-lo
esse escritor francês), de vez que ELEITOS POR DECRETO PREDESTINATÓRIO ou
PREDESTINADOS POR DECRETO ELETIVO não estão sujeitos ou susceptíveis a qualquer
tipo de percalço existencial que pudesse colocar em risco seu perene,
cronometrado e venturoso encontro com Deus.
Tais
privilegiados, pois, não necessitam nem de SALVAÇÃO propriamente dita, muito
menos de SALVAÇÃO que derive do ato, da iniciativa ou da vontade de CRER,
porquanto, obviamente, "QUEM
HOUVER SIDO ELEITO, CRERÁ" (quer nasça vivo, quer se
transforme num feto abortado), dando então lugar à seguinte
conclusão: para a Bíblia, ao homem é necessário CRER E CONVERTER PARA SER
SALVO, enquanto que, para Calvino – que a si mesmo se apregoa como o sumo e inerrante doutrinador e
exegeta, uma espécie peculiarizada de Papa do século XVI - e para todos os assim chamados calvinistas, ninguém crerá se
eleito não houver sido e, portanto, tudo jaz na secreta e unilateral dependência
de ELEIÇÃO
PRÉVIA PARA CONVERSÃO SEM MÉRITO, lado a lado, em sentido contrário, com REJEIÇÃO PRÉVIA PARA CONDENAÇÃO COM
CULPA PLENA ou CABAL DEMÉRITO derivado de malignidade
autônoma.
Nenhum
de nós SERÁ salvo, nenhum de nós SERÁ condenado, de vez que, ao sentir do
francês Calvino, alguns de nós, SEM QUE O SAIBAMOS, SEM QUALQUER MANIFESTAÇÃO
DE VONTADE, SEM NADA FAZERMOS, SEM NEM MESMO OLHARMOS PARA DEUS, AINDA QUE TÃO
PECADORES COMO QUALQUER SER HUMANO, PECANDO "POR ORDEM DE DEUS" desde Adão (conforme Confissão Calvinista de
Fé de Westminster – Capítulo III, item VII, e Capítulo VI, item I), já somos, já fomos eleitos
para a vida eterna e nela seremos introduzidos como montarias ou equinos
sendo cavalgados por Deus, a quem Calvino chama de Destro Ginete; ao passo que todos os viventes que integram o restante da
humanidade, incluindo crianças ainda
informes, ou embriões uterinos, ou nascidas com graves anomalias, ou gêmeos xifópagos, ou bebês
portadores de anencefalia, ou aqueles que ainda aos seios da mãe, ou com tenra
idade, POR SUA
PECULIAR E EXCLUSIVA CULPA, PELOS IMPERDOÁVEIS PECADOS
COMETIDOS "PARA GLÓRIA DE DEUS" (Confissão Calvinista de Fé de
Westminster), POR HAVEREM "REJEITADO" A DEUS, carregam
em si antes que o mundo viesse a ser mundo o estigma do anátema por efeito do
qual, num aparente e ilusório futuro, serão perpétuos habitantes do inferno, nele
lançados como quadrúpedes sendo montados pelo Diabo, a quem Calvino chama de
Estouvado Cavaleiro, cerrando fileiras ao lado de incontáveis outros
rebentos do demônio.
"Simples"
assim!!!
Duas classes de pessoas calvinisticamente existem:
Os nativos do céu, por IMERECIDA e ALEATÓRIA
eleição, e os nativos do inferno, por CAPRICHOSAMENTE SELETIVA condenação,
decorrentes tanto essa quanto aquela de um projeto eterno que, segundo o citado
escritor João Calvino, é resultante do que ele chama de soberania
inquestionável de um Deus que simplesmente DELIBEROU
SALVAR (salvar de quê?) e simplesmente DELIBEROU CONDENAR (condenar por quê?), ao
qual NÃO APETECEU CRIAR A TODOS EM IGUAL CONDIÇÃO, que a uns PROJETOU PARA A
VIDA e a outros ASSINALOU PARA A MORTE, conforme assim se lê em seus apontamentos:
"...Pois ele não quis criar a todos em igual
condição; ao contrário, preordenou a uns a vida eterna; a outros, a condenação
eterna."
(Institutas, vol. III)
Fica óbvio, portanto, que João
Calvino (calvinismo) protagoniza, também, a mutilação até mesmo de sua passagem
Bíblica favorita (Rm
9:13), ou seja, aquela que diz respeito à trajetória existencial envolvendo Jacó, o
PRÉ-AMADO, e Esaú, o PRÉ-CONDENADO.
Ora, de que vulcanicamente absurda e disparatada maneira um Deus Todo-Predestinacionista poderia AMAR
PRIMEIRO para, só então, eleger predestinatoriamente,
e, em sentido contrário, ODIAR PRIMEIRO para, em
seguida, condenar predestinatoriamente? Elegeria
Ele porque AMOU, e condenaria porque ODIOU?
E, nesse cenário
calvinístico, por que Deus AMARIA alguém?
D'onde proviria o
AMOR de Deus por determinadas poucas pessoas?
E por que Deus
ODIARIA alguém?
Qual a razão de ser
do ÓDIO de Deus por certas e inumeráveis pessoas, já a partir do próprio Adão,
cujo pecado fora ORDENADO por Deus "para sua própria
glória"?
Fica irrefragavelmente claro, então, que, ao revés
do que a Bíblia apregoa; longe, muito longe, do que a Bíblia insistentemente
preconiza, para esse movimento religioso, Deus não se guia nem pelo amor, nem pelo
ódio. Deus é somente
soberano, insere-se em sua soberania,
vincula-se à sua soberania, maneja como lhe aprouver a sua soberania,
sempre e unicamente em prol de si mesmo.