Por uma questão, digamos, de coerência
calvinista, isto é, estritamente dentro das efusões literárias ou doutrinárias
atribuídas ao francês Calvino, segundo as quais todas as pessoas já têm inteiramente
definida sua trajetória existencial terrena e pós-terrena, através da
predestinação que nada excepciona, ter-se-ia de admitir ou mesmo de defender
com unhas e dentes que cristão nenhum jamais se suicidaria!!
E por que o cristão se faz
imune à prática do suicídio? Simplesmente porque aquele que for "calvinisticamente eleito"(sic) não estaria correndo nenhum
risco de se perder ou de ser perdido, na medida em que, num contexto de
raciocínio predestinatório, o decreto eletivo é de uma infalibilidade
inquestionável.
Além disso, ou melhor, dentro
dessa órbita joãocalvinista, ninguém, nenhum homem, nenhuma mulher, nenhum
vivente estaria apto a decidir ou a escolher ou a fazer uso de livre-arbítrio
no sentido de matar-se a si mesmo, porquanto isso representaria a negação da
soberania de Deus, sobre a qual (unicamente) se assenta toda a tese do
calvinismo.
A menos que, nas teses ou teorias desse segmento religioso
chamado calvinismo, Deus inclua ou HAJA INCLUÍDO em seus decretos predestinatórios também o suicídio de certas e determinadas
pessoas, todas as quais
HAVERÃO DE SE MATAR EM ESTRITO CUMPRIMENTO DO CONSELHO INVENCÍVEL OU
IRRESISTÍVEL DE DEUS.
Do contrário, o ato de tirar a própria vida (suicídio)
representaria necessariamente uma "insubordinação" contra a vontade predestinatória de Deus, o que, aos olhos do
movimento calvinista, constitui uma impensável aberração, já que TUDO O QUE
DEUS DETERMINOU INVARIAVELMENTE E CRONOMETRADAMENTE OCORRERÁ, exatamente como alardeiam em livros e
na própria Confissão Calvinista de Fé de Westminster.
E que não venham os adeptos desse segmento religioso
fatalista argumentar que o suicida teria agido "livremente"(sic) ou movido pelo que apelidam de "livre-agência"(sic),
como se Deus não o houvesse ordenado
ou preordenado ou predestinado;
como se Deus fosse apanhado de
surpresa por um ato irresponsável de um "livre-agente"(sic),
ou, pior ainda, como se Deus fosse o
autor de "Decretos Ativos"(sic)
e "Decretos
Permissivos": o primeiro, consistindo em ALGEMAR pensamentos e atos quaisquer de quaisquer pessoas; e o segundo, consistindo
em "AFROUXAR
ALGEMAS" para determinadas ações que seriam praticadas por "PERMISSÃO DETERMINADA" ou "FATALISMO
PERMITIDO"...
Por conseguinte, em consonância com a cátedra
joãocalvinista,
Cristão definitivamente
NÃO SE SUICIDA; Cristão NÃO PODE SE SUICIDAR, ainda que aparentemente seja esse
o seu desejo; Cristão JAMAIS MATAR-SE-IA A SI PRÓPRIO porque sua vida não lhe
pertence, suas inclinações não provêm dele próprio, ele nada pensa, faz ou
realiza como ato particularizadamente seu.
E, portanto, o suicídio do
cristão, numa síntese, revela-se cabalmente impossível por dois motivos: a
eleição soberana, todo-abrangente e inerrante, lado a lado com a completa
ausência de voluntariedade ou livre-arbítrio, quer para a vida, quer para a
morte.
Esta é, em brevíssimas
palavras, a tônica das teses do cidadão cujo prenome é João, mais conhecido
como Calvino.
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