Em desoladora e obscurecida verdade, não temos noção ampla e
distintiva de justiça, não a praticamos e dela nem nos damos conta, exceto,
confusamente, quando nos sentimos algo injustiçados ou feridos em nosso egoísmo
e incontrolável vaidade.
Não conhecemos o amor, embora amor seja uma das palavras
mais pronunciadas no mundo, quiçá a mais verbalizada em todos os tempos.
Não
obstante vivos e, portanto, dotados de vida, da vida muito pouco sabemos. Somos
conduzidos mais pelos sentidos do que propriamente pela indecifrável
racionalidade que nos é inerente.
Não há ninguém que verdadeiramente ame o próximo. Tudo não
passa de devaneios e lapsos de imaginação; tudo se resume a rotineiros e
ininterruptos intercâmbios de interesses, ainda que assim não pensemos, ou
mesmo que outra seja a rotulação ou a roupagem que delineia a aparência.
O semelhante somente é levado em alguma conta quando e
enquanto dele se puder extrair um qualquer benefício, seja material ou
imaterial. E essa é a tônica até mesmo no ambiente ou no seio familiar, onde,
presumivelmente de maior probabilidade, o suposto exercício de amor é matizado
pelo relativismo e tem sua intensidade regulada segundo a medida daquilo que os
componentes da família se podem reciprocamente oferecer.
Tudo
passa, tudo arrefece, tudo entra em desuso, tudo morre.
Morremos pouco a pouco, morremos dentro de nós mesmos,
morremos em nós mesmos, alheios à justiça, incapazes de amar e sedentos de
vida.