A vida é triste. A morte é triste. O amor é triste.
A alegria é triste.
O enfado é triste. A tristeza é duplamente triste.
A intelectualidade é triste. Esquecer é triste. Ser
esquecido é triste.
Ser rico é triste. Ser pobre é triste. Ter filhos é
triste. Não ter filhos é triste.
A perda é triste. A indiferença é triste. A empatia
é triste. A fome é triste.
A fartura é triste. A glutonaria é triste. O
efêmero é triste. O ininterrupto é triste. O silêncio é triste. Gritos são
tristes.
O amanhecer é triste. O entardecer é triste. A
noite é triste.
Nascer é triste. Envelhecer é triste. A doença é
triste.
A veste branca do médico é triste. A música é
triste. A voz é triste.
Calar é triste. A oração é triste. Desesperar é
triste. Agonizar é triste.
Vigília pré-sepultamento é triste. Descer à
sepultura é triste. Viver é triste.
Todas as coisas, ou nuanças, ou
variantes ou mutações nesta vida são, sem exceção, peculiarmente tristes. O
máximo que o trâmite ou o cortejo existencial chamado vida nos concede são
apenas momentos fluidos, fugazes, durante os quais nos sentimos algo alentados
e estimulados a prosseguir na frenética busca por outros brevíssimos e símiles
momentos.
Nesse inevitável vaivém, de momentos em
momentos, a vida consegue às vezes nos conduzir ou nos induzir a pensar que
somos, ou que fomos, ou que podemos, ou que poderíamos ter sido felizes, como
se delirantemente nos fosse possível tomar posse daquilo que aos quatro ventos
se chama e se pranteia pelo nome de felicidade.
E, por fim, ao cabo de suspiros, precisamente como
o vapor que se dissipa, tudo se deteriorou, tudo passou, tudo se esvaiu. Não há
mais momentos, não há mais expectativas. Até que, rompido o véu, banidas as
limitações, soa-nos aos ouvidos o chamado de Deus, abrindo-nos em definitivo
novos olhos para com eles abraçarmos a eternidade.
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