Eis uma nuança do segmento religioso calvinista que, muito
provavelmente, dará causa a manifestações de surpresa e perplexidade,
considerando que pessoas no Brasil sabidamente não são cultivadoras do hábito da
leitura de livros, muito menos de literatura extensa e difícil como os escritos
produzidos pelo francês João Calvino.
Desde muitíssimos e empoeirados
séculos pretéritos, os Católicos Romanos adotaram oficialmente e pomposamente o
Papado ou Pontificado Unipessoal, instalado ou erigido com o apanágio de Estado
ou País, com divisão territorial e prerrogativas peculiares. Como razão de
existir de tudo isso, exsurge a figura do Papa em si mesma, alvo de irrestrita
veneração e aclamado como sendo o Sumo Pontífice detentor de Santidade e
Infalibilidade.
Por sua vez, esse citado escritor
gaulês de nome João Calvino sustenta exegeticamente e doutrinariamente uma
espécie de Papado ou Pontificado em moldes coletivos e que, conforme por ele exposto em minúcias no Livro dos Calvinistas
(Institutas da Religião Cristã, vol. IV, tradução de Waldyr Carvalho Luz), não seria organizado e instalado
em território delimitado, semelhantemente ao que ocorre no âmbito do Vaticano,
mas tratar-se-ia de sublime e santo ofício protagonizado por Pastores, todos os
quais investidos na condição ou qualidade de Embaixadores de Cristo, revestidos
de Supremo Poder a cuja Majestade haverão de se submeter todos os poderes, todas
as glórias e todas as sabedorias do mundo.
Ademais, nesse Pontificado
Coletivo os Pastores seriam detentores do
Poder das Chaves, habilitados divinamente para Ligar e Desligar, idôneos e
capacitados para Perdoar os Pecados de todos quantos se lançarem a confissões
auriculares, além de dotados de Divina Capacitação para Relampejar e Lançar
Raios.
“...Eis o supremo poder com o qual convém que os
pastores da igreja sejam investidos. Que obriguem a todo poder, glória, sabedoria, exaltação do mundo a
sujeitar-se-lhe e a obedecer-lhe à majestade; sustentados
em seu poder, imperem sobre todos,
desde o mais alto até o mais baixo; edifiquem a mansão de Cristo, desmantelem a de
satanás; apascentem as ovelhas, submetam os rebeldes e
contumazes; liguem e desliguem; enfim, caso se faça necessário, relampejem e despeçam raios; tudo, porém, na Palavra de Deus.” (Institutas, vol. IV)
O escritor em referência, ressalve-se,
não mencionou ou afirmou, nesse mesmo livro, que os Pastores-Papas haveriam de
ser reputados como Homens Santos e Infalíveis, mas sem dúvida, e de maneira inegavelmente
no mínimo surpreendente, João Calvino a eles atribuiu capacitação ou dons
sobrenaturais muito superiores àqueles supostamente possuídos pelo Papa do
Vaticano, a quem os Católicos Romanos outorgam a virtude da Infalibilidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário